Lembro-me claramente da vez em que, aos 18 anos, entrei em um bar simples no interior de Minas e ouvi pela primeira vez uma viola caipira acompanhando uma história de coração partido. Saí de lá com o celular cheio de gravações caseiras e a certeza de que aquela música tinha uma força diferente — era íntima, direta e profundamente verdadeira. Na minha jornada como jornalista e pesquisador de música brasileira nos últimos 12 anos, voltei ao sertão, aos palcos de arenas e aos estúdios de gravação para entender como o sertanejo se transformou e por que continua dominando rádios e playlists.
Neste artigo você vai entender:
- O que é sertanejo e suas principais vertentes;
- Como o gênero evoluiu historicamente e por que isso importa;
- Instrumentos, temas e artistas essenciais para começar a explorar;
- Dicas práticas para montar playlists, escolher shows e reconhecer subgêneros;
- Respostas rápidas às dúvidas mais comuns sobre sertanejo.
O que é sertanejo? Uma definição prática
Sertanejo é um gênero da música brasileira nascido no interior do país, fruto das modas de viola, causos rurais e da vida no campo. Pode soar como uma toada simples ou como um pop arregimentado para arenas — ambos carregam elementos de saudade, romance e cotidiano do interior.
Breve história: da viola caipira às arenas
O sertanejo tem raízes nas modas de viola do século XIX e desenvolveu-se ao longo do século XX.
- Sertanejo raiz: artistas como Tonico & Tinoco e Tião Carreiro trabalharam com viola caipira e letras sobre o campo.
- Modernização (anos 80/90): Chitãozinho & Xororó e Leandro & Leonardo popularizaram o gênero nas grandes cidades, mesclando com arranjos pop.
- Explosão comercial (anos 2000): o chamado sertanejo universitário (Jorge & Mateus, Victor & Leo) atingiu público jovem e virou trilha de baladas.
- Atualidade: surgiram ramificações como o “feminejo” (Marília Mendonça) e o sertanejo-pop/funk, que dialogam com as plataformas digitais e streaming.
Por que o sertanejo segue tão popular?
Existem razões culturais, econômicas e tecnológicas.
- Conexão emocional: letras que falam de amor, perda e festa são universais.
- Adaptação musical: o gênero absorveu elementos do pop, forró, arrocha e até do funk.
- Estratégias de mercado: gravadoras e artistas investiram em shows massivos e parcerias com influenciadores digitais.
Instrumentos e elementos musicais básicos
Quer reconhecer uma faixa sertaneja? Procure por:
- Viola caipira ou guitarra acústica;
- Arranjos harmônicos simples, muitas vezes em tom menor para canções melancólicas;
- Uso de backing vocals em refrões e refrões pegajosos para cantar junto;
- Em versões modernas, produção eletrônica e batidas programadas.
Principais vertentes do sertanejo (e artistas para ouvir agora)
- Sertanejo raiz: Tonico & Tinoco, Tião Carreiro — ouça gravações históricas e discos de viola.
- Sertanejo romântico/clássico: Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano — boas para entender a transição para o mainstream.
- Sertanejo universitário: Jorge & Mateus, Henrique & Juliano — foco no público jovem, com melodias fáceis.
- Feminejo: Marília Mendonça, Maiara & Maraisa — letras com protagonismo feminino e temas do dia a dia.
- Sertanejo pop/crossover: Gusttavo Lima, Luan Santana — mistura com pop e produção grandiosa para arenas.
Como começar a explorar o sertanejo hoje (passo a passo)
Quer criar uma playlist representativa? Siga este roteiro prático:
- Inclua 3 faixas raiz, 3 românticas clássicas, 4 do universitário e 4 contemporâneas pop/feminejo.
- Procure versões ao vivo para sentir a energia da plateia — o sertanejo muitas vezes se revela melhor em shows.
- Leia letras: muitos hits são pequenos contos; entender a letra amplia a experiência.
- Vá a um show local antes de ir a uma arena — você entenderá a dinâmica de interação artista-público.
Dicas para jornalistas e curiosos: como analisar uma canção sertaneja
Se você escreve sobre música, avalie:
- Letra: tema, voz narrativa, regionalismos;
- Arranjo: presencia da viola, uso de percussão eletrônica, solos;
- Contexto: onde foi gravada, quem são os compositores, público-alvo;
- Impacto: como foi consumida (rádio, streaming, TikTok) e recepção do público.
Perguntas frequentes (FAQ rápido)
O que diferencia sertanejo de forró ou música caipira?
Sertanejo tem origem nas modas de viola e fala do interior, enquanto forró tem raízes no Nordeste com zabumba, sanfona e triângulo. Música caipira é termo próximo ao “sertanejo raiz”, mas pode ser mais amplo historicamente.
O que é sertanejo universitário?
É uma vertente mais jovem que surgiu nos anos 2000, com letras voltadas ao público universitário, arranjos leves e forte presença em festas e bares.
O sertanejo é “comercial demais” hoje?
Depende do ponto de vista. A popularização trouxe produção sofisticada e parcerias comerciais, mas também abriu espaço para artistas independentes e subgêneros autênticos. Transparência: há prós (alcance) e contras (padronização).
Recomendações práticas: álbuns, músicas e documentários
- Ouça “Raiz” ou coletâneas antigas para entender o som tradicional.
- Álbum sugerido: discos ao vivo de Chitãozinho & Xororó e gravações de Tonico & Tinoco.
- Músicas para começar: clássicos como “Evidências” (Chitãozinho & Xororó), sucessos de Marília Mendonça e faixas de Jorge & Mateus.
- Procure documentários e reportagens em portais como G1 para acompanhar tendências e dados de mercado.
Transparência e divergências
Há debates legítimos: puristas criticam a comercialização; outros defendem a renovação e inclusão de novas vozes. Ambos os lados têm razão em partes. O importante é reconhecer que o sertanejo é plural e continua vivo justamente por essa capacidade de se transformar.
Conclusão
O sertanejo é muito mais do que uma estética: é um espelho das transformações culturais do Brasil. Desde as vozes da viola caipira até os megashows e as parcerias digitais, o gênero segue contando histórias do cotidiano com emoção e simplicidade.
FAQ rápido:
- Como distinguir subgêneros? Ouça instrumentação e preste atenção nas letras.
- Por onde começar? Misture clássicos raiz com nomes contemporâneos.
- Vale assistir a shows? Sim — a experiência ao vivo é essencial para entender a relação com o público.
E você, qual foi sua maior dificuldade com sertanejo? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!
Fonte utilizada (leitura recomendada): G1 — seção Sertanejo e Música (https://g1.globo.com/pop-arte/musica/sertanejo/)